Juramento Médico de Amato Lusitano «Juro perante Deus imortal e pelos seus dez santíssimos
mandamentos, dados no Monte Sinai ao povo hebreu, por intermédio
de Moisés, após o cativeiro do Egipto, que na minha clínica
nada tive mais a peito do que promover que a fé intacta das coisas
chegasse ao conhecimento dos vindouros; e para isso nada fingi, acrescentei
ou alterei em minha honra ou que não fosse em benefício
dos mortais; não lisonjeei, nem censurei ninguém ou fui
indulgente com quem quer que fosse por motivos de amizades particulares;
sempre em tudo exigi a verdade; se sou perjuro, caia sobre mim a ira do
Senhor e de Rafael, seu ministro, e ninguém mais tenha confiança
no exercício da minha arte; quanto a honorários, que se
costumam dar aos médicos, também fui sempre parcimonioso
no pedir, tendo tratado muita gente com mediana recompensa e muita outra
gratuitamente; muitas vezes rejeitei, firmemente, grandes salários,
tendo sempre mais em vista que os doentes por minha intervenção
recuperassem a saúde, do que tornar-me mais rico pela sua liberalidade
ou pelos seus dinheiros; para tratar os doentes jamais curei de saber
se eram hebreus, cristãos ou sequazes da lei maometana; não
corri atrás das honras e das glórias e com igual cuidado
tratei dos pobres e dos nascidos em nobreza; nunca provoquei a doença;
nos prognósticos disse sempre o que sentia; não favoreci
um farmacêutico mais do que outro, a não ser quando em algum
reconhecia, porventura, mais perícia na arte e maior bondade de
coração, porque então o preferia aos demais; ao receitar
sempre atendi às possibilidades pecuniárias do doente, usando
de relativa moderação nos medicamentos prescritos; nunca
divulguei o segredo a mim confiado, nunca a ninguém propinei poção
venenosa, com minha intervenção nunca foi provocado o aborto;
nas minhas consultas e visitas médicas femininas nunca pratiquei
a menor torpeza; em suma, jamais fiz coisa de que se envergonhasse um
médico preclaro e egrégio. Fonte: D’ESAGUY, Augusto Drº., Oração e Juramento Médico de Moisés Maimonde e Amato Lusitano, Lisboa, 1955 |